segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SÃO ELES OS LÍDERES?



Uma revista mineira, Encontro, em sua edição de novembro expôs na capa as fotos de sete políticos das Alterosas e declarou: “As novas lideranças”. Sem discutir sobre o que é ser líder, anunciou na matéria que são pessoas com menos de 50 anos que devem ocupar posições de destaque na política mineira. E isso não é exercer liderança. No caso em pauta, talvez não haja mesmo diferenciações relevantes, e a sociedade de consumo sabe bem como criar seus produtos.

O blog luizdomosaico.blogspot.com entrevistou o arcebispo belorizontino, dom Walmor Oliveira, um líder religioso, sobre o papel da liderança. Outro entrevistado foi o ex-religioso dominicano Frei Betto. Coordenador de Mobilização Social do programa Fome Zero no governo Lula, tem notória e premiada atuação em defesa dos direitos humanos e dos movimentos populares. Entrevistamos também o lendário líder das vilas e favelas de Belo Horizonte, e muito mais, Vicente Gonçalves, o Vicentão.

Num sentido político e social, falar em liderança sem buscar esse significado, a vida e o sentimento que há por trás disso, sem fazer aflorar pelo menos algumas características que lhe dão sustentação é reduzir o líder e principalmente tudo que ele possa representar. Como encaixá-lo na imagem de um time de futebol num campeonato, o time que tem mais pontos.

Não se pode deixar de buscar, por exemplo, as motivações do pretendente a líder, o seu discernimento e clareza sobre as questões e desafios de interesse coletivo e seu compromisso em relação a isso, sua capacidade de desprendimento, humildade e respeito no trato dessas questões, sempre necessários quando há outras pessoas implicadas no que fazemos. Principalmente quando entre essas pessoas há uma enormidade de destituídos, vilipendiados e agredidos vida afora, que necessitam resgatar ou ver surgir fortemente sua autoestima.

Isso ajuda a definir a sinceridade dos atos de possíveis líderes, que não devem ser atos gratuitos ou ditados pelos interesses de poucos, e no campo político comprometidos com as causas da transformação social e da depuração dos sentimentos de cada cidadão, propiciando a melhor construção e elevação do espírito humano através das relações vivenciadas, nossos atos cotidianos.

Liderar é mais que dirigir um processo, mas implica em sensibilidade, generosidade e despojamento para ajudar a conduzir esse processo. Numa busca maior, um líder não pode ter atitudes passivas diante da realidade, mas posturas firmes dadas pela razão e reconhecidas pelo sentimento, não autoritárias. Um líder verdadeiramente humanista não quer tornar as pessoas subalternas, mas participar da formação de seres para a liberdade, igualdade de direitos e oportunidades e solidariedade. A seguir, as entrevistas:


















DOM WALMOR – “Um líder socialmente colocado é aquele que tem uma visão clarividente da realidade, das necessidades, das prioridades, sobretudo a partir daqueles que necessitam mais, levando sempre em conta nas suas escolhas e nos serviços que ele presta os valores humanos, os valores que relevam a cultura e que garantem a cidadania o equilíbrio que ela precisa.” 






 VICENTÃO – “Um líder é alguém capaz de sentir compaixão, de compreender o meio em que está, ele se faz num meio necessitado de algo e torna-se líder pelo trabalho e pelo amor que tem pela causa que defende. Principalmente quando nasce em um meio pobre, pois não tem dinheiro nem poder para impor. Este é o líder natural. O sentido da liderança hoje está deturpado, falam que é no comércio, na empresa e não é nada disso. Agora, o camarada que tem dinheiro e que diz que faz tudo isso não é liderança. Então não podemos confundir o verdadeiro líder com liderança dada pelo poder do dinheiro, o que vemos ocorrer, por exemplo, em empresas onde a hierarquia é um conjunto decrescente de poder. O verdadeiro líder, o poder que ele tem é a luta e a compreensão do povo, o povo é que elege ele líder. Não há liderança sem humildade, sem respeito. E quem de alguma forma não abraça a causa do necessitado, do desgraçado, não é líder.”






FREI BETTO – “A meu ver o líder é um educador, um pedagogo. Pedagogo é uma palavra que vem do grego que significa “aquele que ajuda a percorrer o caminho”. Esse é o verdadeiro líder, não é aquele que se impõe sobre os outros, mas aquele que abre os olhos e os horizontes das pessoas fazendo com que elas olhem não para ele, líder, mas para os ideais que ele representa, que ele proclama, que ele ressignifica e que ele aponta. Então, ideais de solidariedade, de altruísmo, de serviço, de amor, de compaixão. Esse é o verdadeiro líder.”