Uma revista mineira, Encontro, em sua edição de novembro
expôs na capa as fotos de sete políticos das Alterosas e declarou: “As novas
lideranças”. Sem discutir sobre o que é ser líder, anunciou na matéria que são
pessoas com menos de 50 anos que devem ocupar posições de destaque na política
mineira. E isso não é exercer liderança. No caso em pauta, talvez não haja
mesmo diferenciações relevantes, e a sociedade de consumo sabe bem como criar
seus produtos.
O blog luizdomosaico.blogspot.com entrevistou o arcebispo
belorizontino, dom Walmor Oliveira, um líder religioso, sobre o papel da
liderança. Outro entrevistado foi o ex-religioso dominicano Frei Betto.
Coordenador de Mobilização Social do programa Fome Zero no governo Lula, tem notória
e premiada atuação em defesa dos direitos humanos e dos movimentos populares.
Entrevistamos também o lendário líder das vilas e favelas de Belo Horizonte, e
muito mais, Vicente Gonçalves, o Vicentão.
Num sentido político e social, falar em liderança sem buscar
esse significado, a vida e o sentimento que há por trás disso, sem fazer
aflorar pelo menos algumas características que lhe dão sustentação é reduzir o
líder e principalmente tudo que ele possa representar. Como encaixá-lo na imagem
de um time de futebol num campeonato, o time que tem mais pontos.
Não se pode deixar de buscar, por exemplo, as motivações do
pretendente a líder, o seu discernimento e clareza sobre as questões e desafios
de interesse coletivo e seu compromisso em relação a isso, sua capacidade de
desprendimento, humildade e respeito no trato dessas questões, sempre
necessários quando há outras pessoas implicadas no que fazemos. Principalmente
quando entre essas pessoas há uma enormidade de destituídos, vilipendiados e
agredidos vida afora, que necessitam resgatar ou ver surgir fortemente sua
autoestima.
Isso ajuda a definir a sinceridade dos atos de possíveis
líderes, que não devem ser atos gratuitos ou ditados pelos interesses de poucos,
e no campo político comprometidos com as causas da transformação social e da
depuração dos sentimentos de cada cidadão, propiciando a melhor construção e elevação
do espírito humano através das relações vivenciadas, nossos atos cotidianos.
Liderar é mais que dirigir um processo, mas implica em sensibilidade,
generosidade e despojamento para ajudar a conduzir esse processo. Numa busca
maior, um líder não pode ter atitudes passivas diante da realidade, mas
posturas firmes dadas pela razão e reconhecidas pelo sentimento, não autoritárias.
Um líder verdadeiramente humanista não quer tornar as pessoas subalternas, mas
participar da formação de seres para a liberdade, igualdade de direitos e
oportunidades e solidariedade. A seguir, as entrevistas:
DOM WALMOR – “Um líder socialmente colocado é aquele que tem uma visão clarividente da realidade, das necessidades, das prioridades, sobretudo a partir daqueles que necessitam mais, levando sempre em conta nas suas escolhas e nos serviços que ele presta os valores humanos, os valores que relevam a cultura e que garantem a cidadania o equilíbrio que ela precisa.”
FREI BETTO – “A meu ver o líder é um educador, um pedagogo. Pedagogo é uma palavra que vem do grego que significa “aquele que ajuda a percorrer o caminho”. Esse é o verdadeiro líder, não é aquele que se impõe sobre os outros, mas aquele que abre os olhos e os horizontes das pessoas fazendo com que elas olhem não para ele, líder, mas para os ideais que ele representa, que ele proclama, que ele ressignifica e que ele aponta. Então, ideais de solidariedade, de altruísmo, de serviço, de amor, de compaixão. Esse é o verdadeiro líder.”