Carlos Rezende, o candidato cigano, numa audiência pública sobre questões dos ciganos de Belo Horizonte |
Líder zíngaro mineiro e lutador incansável em favor das comunidades tradicionais - índios, ciganos, quilombolas e outras -, que surgiu nacionalmente a partir de 2013 por sua luta contra o preconceito e a discriminação, pela projeção social e cultural desses segmentos e por uma maior inclusão deles na sociedade brasileira, falou ao blog sobre temas que importam ao cidadão. Há cerca de um milhão de ciganos no país e Minas é o maior estado cigano brasileiro, com dezenas de milhares de membros da etnia, e ao todo com mais de 400 mil pessoas de raiz cigana.
Os povos ciganos estão no Brasil desde meados do século XVI e já contribuíram em várias áreas da vida nacional, inclusive com nomes reconhecidos até mundialmente, como o ex-prefeito belorizontino, ex-governador mineiro e ex-presidente Juscelino Kubitscheck, cuja família materna - os Kubitscheck - tem origem nos ciganos da antiga Checoslováquia. Juscelino foi, talvez, o único presidente de raiz cigana no mundo.
O nome Kubistcheck carrega a ideia de desbravador, bandeirante, aquele que ia na frente, abria a clareira, fazia a fossa, preparava o terreno para os demais chegarem e montarem acampamento. De alguma forma JK resgatou esse sentido em sua arremetida rumo ao Planalto Central, com a construção de Brasília.
De início, indagado pelo blog sobre o que é ser cigano deu uma olhada pro alto, sorriu e traduziu: "Ser cigano é ser livre, viajar nas próprias e muitas ideias, buscar harmonia com a natureza e com todas as culturas, sem discriminação. É ser do lugar onde se encontra e amar este lugar e o mundo. Minha terra é onde meus pés estão", concluiu.
Carlos Rezende queixou-se de que a discriminação contra os ciganos ainda é forte no país, como também existe contra outras categorias, solicitando que devemos todos buscar respeito e compreensão, e lembrou que apesar disso a cultura cigana é muito admirada, como na música e na dança.
Carlos Rezende (à direita), com a família em sua tenda no bairro São Gabriel |
Perguntado sobre como seria um programa habitacional para atender segmentos pobres de sua etnia, algo no estilo 'Minha tenda, minha vida', disse que os ciganos se incluiriam nos programas existentes como qualquer brasileiro e lembrou rindo que hoje muitos ciganos que têm sua casa, "sempre que possível mantêm lá sua barraca", além de reivindicar a necessidade da implantação de centros de tradições ciganas.
Quando entrou na conversa o tema da violência atual, falou logo dos cuidados que têm de ser dedicados principalmente às crianças e jovens, da proteção que tem de ser dada a eles começando no meio familiar: "Educação tem que ser dada no lar, se deixamos pra rua fazer isso ela faz com violência. Hoje em dia vemos muitos acontecimentos que ferem a inocência de nossos filhos, tem a agressão física, a violência sexual, agressão dentro do próprio lar, crianças abandonadas na rua e desde novas entrando em vícios. Da mesma forma a gente tem que proteger e ter carinho com os idosos, principalmente os que estão em situação de mais carência, nas vilas, favelas e periferias. Hoje tem um número grande de idosos no Brasil e não devemos esquecer que é um caminho que tá colocado pra todos nós."
Provocado sobre o machismo que é atribuído aos homens ciganos, Carlos Rezende disse que isso tem mudado e que em sua opinião não é diferente do machismo que existe em outras categorias sociais: "Tem muita discriminação e agressão contra as mulheres, elas ainda são alvo de homens machistas que se esquecem que foi uma mulher que nos deu a vida, a gente tem de procurar se respeitar." E concorda que as mulheres devem ter mais participação na vida política: "Até deviam disputar mais cargos em eleições, levando o jeito delas verem o mundo e imporem seus direitos. O que precisamos no mundo é que as pessoas se respeitem mais e convivam com mais harmonia, a violência tá muito grande. A gente vê também muita agressão e discriminação contra os gays." E lembrando a dor provocada pela discriminação ao 'seu povo', completou: "Da mesma forma que tem contra os ciganos, índios, negros, quilombolas e os pobres."
Associação presidida por Carlos Rezende em Minas Gerais |
Este blog já publicou outros posts sobre questões relacionadas aos povos ciganos. Abaixo, links para acessar:
MINAS CIGANA - PRELÚDIO
CIGANOS - AUDIÊNCIA PÚBLICA NA CÂMARA DE BH
CIGANOS MINEIROS EM PAUTA
GOVERNO DILMA PROMOVE SEMANA CIGANA
O 'zíngaro' JK |
Reportagem da TV Brasil com ciganos do Distrito Federal |
Dia Nacional do Cigano, 24 de maio, instituído por Lula em 2006 |
Zíngaras em audiência pública realizada na Câmara Municipal de belo Horizonte, em 2013 |
Crianças ciganas em Audiência Pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, em 2013 |