quinta-feira, 11 de setembro de 2014

CIGANOS QUEREM ELEGER DEPUTADO

                                                       
Carlos Rezende, o candidato cigano, 
numa audiência pública
sobre questões dos ciganos de Belo Horizonte
  As eleições em Minas Gerais têm um fato novo na disputa por uma vaga para a Assembléia Legislativa: um candidato genuinamente cigano no páreo. Carlos Rezende, presidente da AGK - Associação Guiemos Kalons - e morador do já antigo acampamento situado na estação São Gabriel, na zona leste de Belo Horizonte, foi lançado candidato a deputado estadual pela legenda do PCdoB.

Líder zíngaro mineiro e lutador incansável em favor das comunidades tradicionais - índios, ciganos, quilombolas e outras -, que surgiu nacionalmente a partir de 2013 por sua luta contra o preconceito e a discriminação, pela projeção social e cultural desses segmentos e por uma maior inclusão deles na sociedade brasileira, falou ao blog sobre temas que importam ao cidadão. Há cerca de um milhão de ciganos no país e Minas é o maior estado cigano brasileiro, com dezenas de milhares de membros da etnia, e ao todo com mais de 400 mil pessoas de raiz cigana.

Os povos ciganos estão no Brasil desde meados do século XVI e já contribuíram em várias áreas da vida nacional, inclusive com nomes reconhecidos até mundialmente, como o ex-prefeito belorizontino, ex-governador mineiro e ex-presidente Juscelino Kubitscheck, cuja família materna - os Kubitscheck - tem origem nos ciganos da antiga Checoslováquia. Juscelino foi, talvez, o único presidente de raiz cigana no mundo.

O nome Kubistcheck carrega a ideia de desbravador, bandeirante, aquele que ia na frente, abria a clareira, fazia a fossa, preparava o terreno para os demais chegarem e montarem acampamento. De alguma forma JK resgatou esse sentido em sua arremetida rumo ao Planalto Central, com a construção de Brasília.

De início, indagado pelo blog sobre o que é ser cigano deu uma olhada pro alto, sorriu e traduziu: "Ser cigano é ser livre, viajar nas próprias e muitas ideias, buscar harmonia com a natureza e com todas as culturas, sem discriminação. É ser do lugar onde se encontra e amar este lugar e o mundo. Minha terra é onde meus pés estão", concluiu.

Carlos Rezende queixou-se de que a discriminação contra os ciganos ainda é forte no país, como também existe contra outras categorias, solicitando que devemos todos buscar respeito e compreensão, e lembrou que apesar disso a cultura cigana é muito admirada, como na música e na dança.
                                                               
Carlos Rezende (à direita), com a família
 em sua tenda no bairro São Gabriel
Os ciganos são antigos conhecedores de ligas metálicas, criaram inclusive corda metálica para guitarra. Assim, ele não poderia deixar de falar sobre a mineração em Minas: "Minas Gerais é um estado minerário e temos que explorar nossos recursos naturais com bom senso e racionalidade. Afinal, minério só dá uma safra. Precisamos dos recursos da natureza para nossa sobrevivência, mas temos de saber usar."

Perguntado sobre como seria um programa habitacional para atender segmentos pobres de sua etnia, algo no estilo 'Minha tenda, minha vida', disse que os ciganos se incluiriam nos programas existentes como qualquer brasileiro e lembrou rindo que hoje muitos ciganos que têm sua casa, "sempre que possível mantêm lá sua barraca", além de reivindicar a necessidade da implantação de centros de tradições ciganas.
                                   
Quando entrou na conversa o tema da violência atual, falou logo dos cuidados que têm de ser dedicados principalmente às crianças e jovens, da proteção que tem de ser dada a eles começando no meio familiar: "Educação tem que ser dada no lar, se deixamos pra rua fazer isso ela faz com violência. Hoje em dia vemos muitos acontecimentos que ferem a inocência de nossos filhos, tem a agressão física, a violência sexual, agressão dentro do próprio lar, crianças abandonadas na rua e desde novas entrando em vícios. Da mesma forma a gente tem que proteger e ter carinho com os idosos, principalmente os que estão em situação de mais carência, nas vilas, favelas e periferias. Hoje tem um número grande de idosos no Brasil e não devemos esquecer que é um caminho que tá colocado pra todos nós."

Provocado sobre o machismo que é atribuído aos homens ciganos, Carlos Rezende disse que isso tem mudado e que em sua opinião não é diferente do machismo que existe em outras categorias sociais: "Tem muita discriminação e agressão contra as mulheres, elas ainda são alvo de homens machistas que se esquecem que foi uma mulher que nos deu a vida, a gente tem de procurar se respeitar." E concorda que as mulheres devem ter mais participação na vida política: "Até deviam disputar mais cargos em eleições, levando o jeito delas verem o mundo e imporem seus direitos. O que precisamos no mundo é que as pessoas se respeitem mais e convivam com mais harmonia, a violência tá muito grande. A gente vê também muita agressão e discriminação contra os gays." E lembrando a dor provocada pela discriminação ao 'seu povo', completou: "Da mesma forma que tem contra os ciganos, índios, negros, quilombolas e os pobres."

                                                                   
Associação presidida por Carlos Rezende em Minas Gerais
                                                                             

Este blog já publicou outros posts sobre questões relacionadas aos povos ciganos. Abaixo, links para acessar:

MINAS CIGANA - PRELÚDIO

CIGANOS - AUDIÊNCIA PÚBLICA NA CÂMARA DE BH

CIGANOS MINEIROS EM PAUTA 

GOVERNO DILMA PROMOVE SEMANA CIGANA


O 'zíngaro' JK
                                                                                                                                           
Reportagem da TV Brasil com ciganos do Distrito Federal

Dia Nacional do Cigano, 24 de maio, instituído por Lula em 2006 

Zíngaras em audiência pública realizada na
Câmara Municipal de belo Horizonte, em 2013

Crianças ciganas em Audiência Pública na
Câmara Municipal de Belo Horizonte, em 2013



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